O Garoto Que Ia Mudar o Mundo

16/05/2016

   Faço minhas as palavras daquela manchete do jornal britânico, BBC, sobre a instabilidade política pela qual passa o Brasil. Reafirmo, senhorxs, o questionamento da dita manchete... Mas, por hora, considerando puramente sua interrogativa mesmo, apesar da incontestável ironia de se tratar de uma pergunta advinda de uma nação exploradoramente colonizadora... Entretanto, afinal, em diversos outros títulos das matérias jornalísticas, o que mais temos visto são afirmativas, não o questionamento, não a filosofia. E a Filosofia é primordial para a compreensão da política (não foi justamente por seu revolucionarismo e inteligência que, nos tempos da opressão da ditadura militar {1964-1985}, nos tiraram a Filosofia da grade escolar..?!). Pois valorizemos o questionamento. Até pelo porquê de que a maioria da população está com mais dúvidas e perguntas do que com respostas, em relação à atual situação nacional... Trago a manchete britânica, pois esse majoritário populacional brasileiro encontra-se tão de fora das decisões sobre o futuro do país quanto os próprios Estados estrangeiros... E sim, a situação do Brasil tem sido noticiada em todo o globo, e pelas mais influentes redações, inclusive pelo famoso The New York Times! E sim, nossa inércia é antidemocrática. Nossa inércia é terrivelmente antirrepublicana.

   "O que deu errado no Brasil?", era o que dizia, afinal, a manchete da BBC, emitida nesse doze de maio... O mundo faz tal interrogação sobre nós, e se também a estamos fazendo, somente me ocorre que a ausência desse conhecimento indica que também estamos alheios... A democracia, e nossa Constituição, inferem que o povo deveria estar integrado às decisões. Esta "democracia indireta", como chamam os cientistas políticxs, chega ao ponto do contraditório! Até distinta da, chamada, "democracia direta", a original e participativa, criada na Grécia Antiga (apesar do fato de ela haver sido censitária). Recuso-me ao conformismo afirmado pelo propagandista e jornalista na República Velha ("república"), Lima Barreto, quando constatou o patético pressuposto de que "No Brasil não há povo, há público". Independentemente de posicionamento partidário.

   Independentemente de politização formal ou informal, digo, seja nas urnas ou seja nos movimentos sócio-culturais. Quanto a estes, inclusive, tive o privilégio de, há alguns dias, assistir a uma brilhante aula sobre MPB de protesto e o movimento tropicalista no Brasil. O questionamento feito foi nada menos que reflexivo: diversos músicxs e poetas (escritorxs, etc) dos anos 60, 70, 80, também se politizavam, não faziam da arte e da cultura alienações à ética, ao governo, à sociedade (com exceção da Jovem Guarda). Frente a isso, estamos em meio a um processo de impeachment, e cadê a politização, por exemplo, na música brasileira dos dias de hoje?! A arte também deveria se posicionar, não nos alienar - foi a conclusão da professora. Tanto é verdade, que temos de reaproveitar trechos daquela época para tentar descrever o momento histórico da atualidade... "Que país é este?", do Renato Russo. "Ideologia, eu quero uma pra viver", do Cazuza. E etc.

   E, em conclusão, ainda sobre quando Cazuza cantava "Aquele garoto que ia mudar o mundo, e hoje assiste a tudo, em cima do muro..."... Não sejamos esse garoto.


 

Carolina Lino - Blog de temáticas sociopolíticas e culturais
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