O Relógio de Bolso

02/07/2018

     ´´Sejam bem-vindxs a isso que eu não sei bem o que é...´´, dissera, justamente em março do politicamente esperado ano de 2018 d.C., doutor cujo terceiro nome é assim coincidente com determinado longuíquo império o qual n´alguma vez adotara como simbologia de fé um sujeito executado por tal também coincidente império. Saudações, carxs leitorxs desta empoeirada Datilógrafa. ´´É da pretensão do presente trabalho acadêmico...´´, ora, que despropósito. Caiba a conhecimento que se trata o presente texto de mais um livre criativo projeto semestral proposto em mais uma disciplina de nosso prezado professor da História do presente: obrigada, professor Romano, padrinho teórico. Se no parágrafo inicial cabe informar a que veio a presente redatora, digo que aqui me encontro quanto à disciplina de ´´Política e Partidos no Brasil´´, cujo projeto proposto pressupõe a análise do programa de um dos trinta e cinco partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, em analogia a um dos excertos da bibliografia da eletiva. A etimologia ´´eletiva´´, do verbo ´´eleger´´. E ´´obrigativas´´ foi o termo em aula proferido para se referir a quando eram escassas as opções consideráveis de eletivas... Imaginem vocês o quão autoritário seria um fechamento de trinta e cinco eletivas em prol de, em exemplificação, em mera exemplificação, duas grandes ´´obrigativas´´, não?! Imaginem um presidenciável, a liderar as pesquisas de opinião, o qual manifesta contrariedade à própria existência do parlamento (e Casa essa onde ocupa cadeira de deputado federal, de um estado onde impuseram intervenção militar, democraticamente eleito por consecutivas sete vezes, enquanto exalta, dentre outras pautas, os anos de chumbo). É o que há na manga para o presente texto, ou mais especificamente... no Bolso. Até o presente momento anual, cito as eleições para a reitoria de nossa UFTM, cito as discussões sobre um golpe também contra a decisão da comunidade universitária na escolha pelo professor Fábio para o cargo de reitor. Cito a greve dos caminhoneiros, devido aos abusivos preços dos combustíveis, greve a qual parara o país, acarretara dias para recesso, inflação, ameaça de falta d´água e de mantimentos, e pânico por parte de muitxs devido aos sérios requerimentos de nova intervenção militar que tirasse um ilegítimo e também nocivo a que se... teme. Cito a espantosa e reveladora palestra da Subcomissão da Verdade, em anfiteatro da universidade - um proferir sobre seus relatórios, e antes do qual poetisa Baletina e eu declamamos (a priori da arte cênica do grupo Tamboril de teatro político: e Mayra Rosa, outra heroína e grande mulher.) pela causa da memória de nossxs mortxs dos porões das ditaduras. Ainda na função de artista, cito a emocionante peça do literato Carlos Morais em homenagem à heroína Marielle Franco, e devo citar que atuamos toda aquela poética naquele anfiteatro com grande orgulho. Cito determinada palestra intitulada ´´Segunda Guerra Mundial: Memória e Literatura´´ (pelo historiador Marcus V.F.S. Oliveira, e pelo psicólogo A. Flaviano, lá pela biblioteca municipal de Uberaba), e cito para que não caia no mesmo esquecimento em que muitas memórias humanas evaporam-se, como rememorara o autor do livro sobre o trauma do perseguido poeta Ferreira Gullar, perseguido devido à ditadura no Brasil. Marcus, escritor cuja sua tal obra já havia a mim autografado como historiadora de algum dia, havia mencionado um sombrio e instigante relógio. O relógio do fim dos tempos, cuja zero hora significaria o cataclismo ao qual a humanidade encontra(ra)-se provavelmente tão próxima a alcançar, no tempo de grandes guerras por exemplo: a humanidade se destruindo... E, carx leitorx, desculpe-me se já estou a machadianamente deveras tornando a divagar. Cabe constar que optei, para meu trabalho, pelo PSC, em analogia com o já dedutível e polêmico presidenciável, conservador de ponteiros em Estática (ainda, e não entretanto distante da hora zero...) e assim desde mais de trinta terrestres rotativas ao Sol desta Máquina de Escrever.

A Persistência da Memória...
A Persistência da Memória...


´´Primeiro levaram os negros

Mas eu não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

(...)

Depois prenderam os miseráveis

(...)

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.´´

- {Bertold Brech}


       ... Guerras e crises, instabilidades em geral, segundo artigo da socióloga e mestra Camila Betoni, são status quo comuns ao despontamento de fascismos, eu rememoro. E eu trouxera a citação em recordação de similares versos sobre levadas de comunistas, judeus, sindicalistas, etc; e vejo que não devia ser a autoria especificamente de tal teatrólogo alemão, e ainda assim são palavras cabíveis ao assunto. Veja bem que o nazismo alemão perseguira negrxs, homossexuais, comunistas, opositorxs políticxs (grupos comum e escancaradamente associados aos ataques do bolsonarismo hodierno...), judeus, deficientes, ciganxs, testemunhas de Jeová, etc. E veja bem que se comumente poderia associar características fascistas (no referido escrito da mestra socióloga indicadas) ao que se concebe como a ideologia bolsonarista quanto a: militarização dos conflitos, desrespeito pelos direitos humanos, obsessão supostamente ´´nacionalista´´, etnocentrismo, autoritarismo, Estado controlador forte, apelo a estigmatizações estéticas, propaganda e simbologias apelativas, apelo à juventude, à dominação masculina, polícia (política ou não) violenta, um líder carismático (de personalismo comparável, creio eu, ao referido pelo ´´Raízes do Brasil´´ de Sérgio Buarque de Holanda). E aí, eis que cito outro dos excertos trabalhados, capítulo I de ´´Em defesa da política´´ de Marco Aurélio Nogueira, que diz de tempo de ´´crise´´ um algo ainda incerto, uma transição segundo Gramsci, conduzindo a um rompimento, onde, porém, ´´nem tudo quanto morre é enterrado´´... E então, trago rapidamente algumas manchetes recentes do jornal Folha de S. Paulo (segundo o próprio militar de minha metáfora do relógio de Bolso, redação jornalística que aparenta posicionar-se frequentemente contra ele.), manchetes as quais parecem denotar a ele consideração de fascista: ´´Um mal cheiro no ar´´ (texto a dizer de um ´´nazismo disfarçado no Brasil´´...); ´´Meirelles ataca Ciro e explora declarações de Bolsonaro contra mulheres´´ (a rememorar por parte dele à petista Maria do Rosário chamamento de ´´vagabunda feia demais para que merecesse o dele estupro´´, ou outras ofensas a uma jornalista...) ; ´´Em 2003, Bolsonaro parabenizou grupos de extermínio por substituir pena de morte no país´´; ´´Admirador de Trump, Bolsonaro tenta se aproximar da Casa Branca´´; ´´Ex-mulheres de Bolsonaro e de governador disputarão vaga no Legislativo´´ (reportagem a evidenciar a defesa da causa dos direitos da mulher como causa antagônica a tais políticos) - além de outras publicações ´´desmoralizantes´´ ao presidenciável, tais quais ´´Bolsonaro faz comício enquanto corta o cabelo´´; ´´Veja entrevista de Bolsonaro à Folha sobre patrimônio e auxílio-moradia (texto a realizar colocação de que Bolsonaro afirmara sonegar impostos, e utilizar tal auxílio para ´´comer gente´´, segundo ele); ´´Lula é o candidato mais preparado (...)´´; ´´Alckmin e Marina (...) agradam (...) - simpatia Bolsonaro desperta nos traders´´. Já o jornal Estadão (em reportagem de julho de 2017 manchetada, todavia como ´´Bolsonaro aprova dois projetos em 26 anos de Congresso´´), pareceu-me provavelmente um pouco mais condescendente, ao mais enfocar os 44 milhões de seguidores virtuais de Bolsonaro, seu banhar em um rio de Israel, seu projeto aprovado quanto à autorização para a pílula de fosfoetanolamina contra o câncer, sua descrença na urna eletrônica, sua pró-atividade quanto a formulações de projetos de lei por ano, ou mesmo a declaração do deputado do Rio sobre ´´não ser homofóbico´´ embora desaprove a petista didática escolar sobre a homoafetividade apresentada a crianças de seis anos (argumento passível de se considerar negativo aos direitos LGBT, aliás, facilmente revelador se analogado a frases do deputado referentes a ´´preferir a morte acidental de um filho´´ do que a deste homossexualidade, ou mesmo referentes à mera afeição entre seres humanos homossexuais como ´´promiscuidade´´ - contradizendo sua própria afirmação sobre ´´comer gente´´-, ´´falta de educação a ser combatida com violência´´, ou que o deputado seria ´´incapaz de amar um filho gay´´ - entrevista, inclusive, fornecida à conhecidamente machista revista Playboy.).

Cena do filme ´´Tropa de elite´´. Icônica cena da camiseta do professor de História, dos direitos humanos ensanguentada por um tiro da polícia.
Cena do filme ´´Tropa de elite´´. Icônica cena da camiseta do professor de História, dos direitos humanos ensanguentada por um tiro da polícia.

           Já quanto à prometida análise do programa político, minha aqui abordagem é a óbvia constante contradição entre a maioria dos posicionamentos do presidenciável em questão para com as metas assumidas oficialmente pelo Partido Social Cristão, do qual Bolsonaro fez parte. É, afinal, ´´terceira´´ República (e, veja bem, agora eu a citar o excerto de Rogério Schmitt - e chega até mesmo a gerar algum estranhamento uma primeira leitura dessa ficha que cai a respeito de nossa primeira experiência de fato democrática da época dita ´´republicana´´ haver sido no entre ditaduras, ou seja, de 45 a 64, ou seja, coisas tais quais o voto censitário e ´´do cabresto´´ da ´´Primeira República´´ tratavam-se de medidas explicitamente antidemocráticas.). Quanto ao programa, um texto em geral muito bonito e inspirador, apesar de explicitamente utópico tal como talvez a vermelha Rosa do Povo do poeta Drummont, se assim posso realizar a analogia. Jair Bolsonaro, porém, me parece haver negligenciado tal programa político, e ignorá-lo em muito. Os parágrafos 1.2 ao 1.5, 1.9 ao 1.12, 1.15, 1.16, 1.19, 2.2, 3.2, 3.9, 3.10, 3.16, 3.24, 4.1 parecem ir de fato contra posturas praticadas pela ditadura militar defendida por J.M. Bolsonaro - no que concerne a terem ido contra princípios de democracia (embora o presidenciável infira que ´´ditadura´´ seja algo comunista, não de militares ´´´´´´salvadores´´´´´´´´ da própria democracia da amada e idolatrada...), de dignidade humana (Bolsonaro veementemente é defensor da tortura, do genocídio a grupos perseguidos e por ele considerados também ´´bandidos´´...), de eleição presidencial, pluripartidarismo, sufrágio, ética, legitimidade, bem comum, pax, liberdade de imprensa (muito embora Bolsonaro defenda a liberdade da mídia independente contemporânea) e de arte, à solidariedade, aos sindicatos (embora haja Bolsonaro sido preso, em 85, por surpreendentemente protestar por escrito por melhores salários aos militares!), ao direito à greve, ao livre pensamento em meios universitários. O parágrafo 1.20, cujas morfologias tratam sobre a igualdade de gêneros, também aparenta contradição, dadas as diversas alegações machistas e sexistas do referido político (como, por exemplo, a afirmação de que prefere o filho ferido do que a brincar com bonecas; ou que a contratação de mulheres pode ser desvantajosa para o empresariado devido à gravidez; ou pautas sobre as quais já por deveras realizei abordagem pelo feminismo em meu ´´O Dia Depois de Março´´). Já os parágrafos 2.1, 2.10 ao 2.12, 3.4, 3.6, 3.11 ao 3.13, de certo modo pela definição de projetos visando à equidade social, até possa dar a lembrar traços vermelhos, ao tangenciar sobre distribuição igualitária de renda, reforma agrária, combate à existência de improdutivas plagas agrícolas, melhorias às classes menos abastadas, direito à Saúde aparelhada pelo governo! Enquanto que os parágrafos 1.7 (referente à Educação cívica e não desligada do democrático partidarismo, portanto, conforme discussão de gênero fora do ´´Escola Sem Partido´´...), 3.15, 3.21 (o qual fala do caráter constitucional, bem como o é a indiscriminação por gênero, raça, etc...) e 3.23 (bolsas, entretanto, privadas) tangem à Educação, área à qual o parlamentar destina escassa atenção, dedicando apenas uma proposta em quase três décadas de mandato (e, ainda assim, uma proposta sobre a Educação não a popular mas a privada e facilitada para filhos de militares...). Trago à tona também os importantes parágrafos 2.9, 3.7, 4.3, dizendo referência à equilibrada exploração ecológica, à defesa das terras indígenas, ao combate ao neocolonialismo e à discriminação - sendo que, creio, umas das afirmativas menos controversas e mais explícitas de Bolsonaro foi justamente ´´negar qualquer centímetro às comunidades tanto quilombolas quanto indígenas´´, assim desrespeitando tais culturas (por mais que haja, no 4.2, o termo ´´universalista´´, que, segundo a Antropologia do século XIX, designa etnocentrismo em oposição ao termo ´´´relativismo´´ cultural...); nomeara tais povos de ´´inúteis´´ às custas do Estado e de expressões associadas a animais (como ´´pesar arrobas´´, ou se ser ´´procriadorx´´...) em pleno clube judeu; e, ainda assim, Bolsonaro haja publicado uma gravação, com apoio de uma aborígine militar, afirmando fazer o ´´bem´´ em trazê-lxs aos benefícios da civilização, e ´´´´´´´´protegê-lxs´´´´´´´´ do imperialismo norte-americano... Outra contradição, aliás, é o 4.4, o parágrafo sobre o desarmamento; céus, Bolsonaro, defende o armamento de todas as casas ´´de bem´´, e o assassinato de quaisquer as pessoas não por ele consideradas ´´´´´´´cidadãxs de bem´´´´´´´´.


          Jair Bolsonaro já expressara publicamente afirmativas xenófobas, racistas, eurocentristas, machistas, homofóbicas, violentas e potencialmente neonazistas, contrárias a tudo quanto de princípios nos foram conquistados, enquanto Humanidade, com a História. Jair Bolsonaro exaltou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na ´´justificativa´´ de seu voto a favor do ilegítimo impedimento de nossa militante primeira presidente mulher (e embora já também haja defendido Luiz Inácio Lula da Silva, há muito tempo...). E o homossexual deputado Jean Wyllys é que fora afastado por cuspir em tal personalismo o qual escarra em preceitos humanos e republicanos mais básicos... Jair Bolsonaro tem processos e o Conselho de Ética atrás de si, devido a seus discursos de ódio. Já comentei, em debate da eletiva, caro professor Romano, em como eu não podia crer no dado das pesquisas de opinião (e mesmo o próprio Jair Bolsonaro afirmar as levar a sério), havendo eu reafirmado-lhe que o nosso majoritário populacional é composto por negrxs e por mulheres. O próprio Bolsonaro já alegara tal majoritário, e não expressara opinião de que isso o derrube quanto às intenções de voto... Ele diz que desagradará, porém que em nada mentirá, porém já são comuns as caídas, de tal militar da reserva, em contradições! Quanta dialética, não...?! Outra dessas contradições, ainda não a concedi nota, a sobre a polêmica com a pergunta da cantora Preta Gil, aliás, onde a resposta de Bolsonaro foi que seus filhos não se relacionariam com mulheres negras porque foram ´´´´´´bem educados´´´´´´; o deputado do RJ ´´retratou-se´´ ao afirmar que sua não aceitação seria à homoafetividade, que havia mal compreendido a pergunta - como se uma discriminação fosse menos pior do que a outra, e como se tal postura não se tratasse de mais outro atentado à democracia e à Declaração dos Direitos Humanos da ONU de 1948 - não coincidentemente no pós Segunda Guerra. Bolsonaro defendera o fuzilamento de FHC. Sempre utilizando a desculpa da ´´liberdade de expressão´´ pelo artigo 53 da Constituição, e da dita ´´imunidade´´ parlamentar. Bolsonaro chama Dilma Rousseff de ´´terrorista´´, porém ele próprio esteve envolvido em planos de atentado explosivo mesmo a quartéis; absolvido, mesmo que a perícia haja provado sua caligrafia envolvida; e não sei se bem compreendo o porquê de, em uma instituição tão rígida quanto um Exército, haverem-no livrado... E, ah sim, creio também curiosa sua ligação com Temer, este, então presidente da Câmara, impediu um dos trinta pedidos de sua cassação. 

        O presente texto vem, em suma, a rememorar algumas de tais posições do candidato à liderança política do país, declarar repúdio à sua ofensiva candidatura, e temor quanto ao futuro para onde se miram as pontarias... dos ponteiros. 


  Carolina N. Lino.


Carolina Lino - Blog de temáticas sociopolíticas e culturais
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