Uma Causa Pela Qual Morrer


É dia dos pais e tenho na manga mais uma história. Trata-se da história real de um pai chamado Zia-ud-Din Yousafzai, história a qual se passa em uma montanhosa e tribal província no noroeste do Paquistão, às proximidades da fronteira com o Afeganistão... Uma sociedade um tanto machista e assolada pelo medo. Diversas eram, e ainda são, as famílias paquistanesas e afegãs a migrar para o campo, justamente pelo medo. Segundo ONU e Unesco, a educação em tal lugar é extremamente precária, especialmente para as meninas - proibidas, pelos radicais, do acesso à instrução - e lhes jogo os dados: duas a cada três crianças por lá são meninas (!), o Paquistão tem o terceiro pior posto no índice mundial relativo à igualdade entre os sexos no sistema educacional, a taxa de analfabetismo na mencionada província é superior a 60%...
Enfim, e sem mais delongas, Zia-ud-Din é um pai e um professor, sem demasiados recursos quando jovem, porém chegou até mesmo a fundar seu próprio colégio. Neste, ele permitia que estudantes meninas tivessem acesso ao ensino, coisa que o Talibã proíbe pela violência mais brutal. Ele costumava dizer, entretanto, que se fosse assassinado por educar crianças, "Não haveria melhor forma de morrer". Mais que isso, ele estimulava sua filha a enfrentar o temor da opressão em busca de sua liberdade e aperfeiçoamento intelectuais. Ó, sim, sua filha, Malala, Malala Yousafzai (a conhecidíssima Malala - eu não pretendia revelar seu nome tão de imediato, mas, mas...). Que grande e considerável sorte a de Malala ter um pai feminista e socialmente consciente, creio, de quem herdou o gosto pelo conhecimento e pela justiça. Na cultura delxs, o nascimento de uma filha menina não é considerado algo satisfatório, e nem mesmo motivo para felicitações. Somente os filhos meninos têm os nomes colocados nas árvores genealógicas... Mas Zia-ud-Din, Zia-ud-Din Yousafzai, deixou sim escrito o nome de Malala em sua árvore; e não, ele não se decepcionou por ter nascido uma menina de seu espermatozoide (... e, evidentemente, o nome de Malala hoje é tão grande, consta em escolas, livros, projetos, palestras...!). Era com a filha que Zia-ud-Din discutia política, quando os outros dois irmãos dela iam dormir; foi ele seu primeiro mestre e seu inspirador, certamente. A luta para educá-la e mantê-la na escola se iniciou em 2007, quando o Talibã infiltrou-se naquela província paquistanesa (Mingora, o nome.), baniu as mulheres da vida social e da Educação, e semeava o terror na população com execuções em praça pública e ameaças transmitidas por rádios clandestinas. Malala diariamente mudava sua rota à escola, ocultava os livros dentre os trajes e desusava uniforme escolar para não chamar atenção. Em 2009, encorajada pelo pai, começou a escrever um blog para a BBC, sob pseudônimo - é claro-, criticando abertamente o Talibã, e se tornando um ícone dos direitos civis. Sua identidade afamou-se no mesmo ano por um documentário do jornal The New York Times sobre sua rotina às rodas ao terror. Ganhou prêmios, tornou-se ativista, etc, etc, todos sabemos. Aí, o infeliz atentado que sofreu, como sabemos, quando levou três tiros na cabeça em um ônibus escolar por milicianos; recuperou-se no Hospital Rainha Elizabeth em três meses, comemorou seu aniversário de 16 anos discursando na ONU (!), e em 2014 foi a pessoa mais jovem a já ser laureada com o Prêmio Nobel da Paz (tinha apenas 17 anos!). Há várias passagens dela as quais eu particularmente amo fazer uso em minhas redações. Hoje Malala tem 19 anos (somente um ano mais velha do que eu), e vive com a família na Inglaterra (ainda sob ameaças revanchistas dos talibãs...). Etc e enfim. Meu e minha leitorx compreendem aonde quero chegar? Esta história começa com um pai que foi contra toda uma cultura e toda uma opressão em nome de sua filha, e de uma causa muito maior. É admirável, senhorxs, é emocionantemente admirável. Não digo que seja remota a construção de um ser humano decente ou de umx cidadãx consciente que não tenha tido um pai, ou genitor presente - pelo contrário, estou certa de que existem grandes mulheres (e grandes homens) por este globo que se criaram com estrita base em mulheres -que, de modo algum, quer dizer que os homens devam ser excluídos de nossa causa. Sem contar ainda que Malala é tópico do trabalho da semana requerido por prof. Matheus Breviglieri. Presenteio-lhe, carxs colegas estudantes, com alguma inspiração... Feliz dia dos pais.
Por: Carolina Lino.
